De
acordo com o Sebrae, a taxa de mortalidade de pequenas e médias empresas no
Brasil é de mais de 40%. Estes são dados que consideram os 2 primeiros anos
após a abertura da firma. Uma parte significativa das quebras se deve à falta
de organização financeira e pela má administração do dinheiro da empresa.
É muito
comum que pequenas e médias empresas sejam criadas em situações de necessidade,
sendo conduzidas por gestores inexperientes e sem formação. Além disso, há
muita informalidade na gestão, com as contas dos donos se misturando
constantemente com as do negócio. Desta forma, pode-se ligar diretamente a
falta de organização financeira à má gestão destas empresas.
Neste
artigo vamos tratar especificamente da organização financeira. Como tratar bem
do dinheiro da empresa? Como criar controles simples e úteis para se manter as
rédeas do negócio? Confira o conteúdo imperdível contido nos tópicos a seguir.
OS PRINCÍPIOS DA ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA
Antes de
trabalharmos o tema, precisamos destacar alguns princípios da organização
financeira. Estes princípios devem guiar todas as ações, assim, só devemos agir
em consonância com tais regras. Vamos lá:
O QUE É O FLUXO DE CAIXA?
O fluxo
de caixa é uma das principais atividades relacionadas à gestão financeira da
empresa. Por meio dele é que se realiza o registro e o acompanhamento de todas
as movimentações que ocorrem com o dinheiro na empresa. Ou seja, sempre que uma
venda é realizada e o dinheiro é recebido, ou há um pagamento para algum
fornecedor, por exemplo, esses valores devem ser apontados no fluxo de caixa.
Todavia,
para que esse controle seja preciso e ajude no entendimento das finanças e na
tomada de decisão, é preciso tomar o cuidado de lançar até mesmo os pequenos
valores que muitas vezes são negligenciados, mas que fazem diferença na hora da
avaliação dos gastos.
Outro
ponto importante está no acompanhamento dessa rotina: o ideal é verificar a
planilha diariamente, a fim de se certificar que não há inconsistências ou
falta de informações.
POR QUE É IMPORTANTE FAZER UM PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO?
O
planejamento orçamentário é o plano estratégico que uma empresa possui para o
período que normalmente é anual com
relação às despesas, receitas, custos e investimentos. Ou seja, é uma
estimativa de todas as movimentações financeiras para os próximos meses.
É
importante contar com essa atividade, pois é por meio dela que o gestor faz uma
previsão do que se espera para o futuro e pode se preparar melhor para os
cenários elaborados. É importante ressaltar que esse planejamento não é feito
com base em palpites, mas sim levando em consideração o histórico da empresa e
as condições atuais do mercado. Sendo assim, podemos dizer que ele ajuda a
nortear as decisões e tornar a administração mais eficiente.
LUCRO E CAIXA SÃO COISAS DIFERENTES
Sim,
muitos empresários entendem que lucro e caixa são a mesma coisa. Contudo, tal
entendimento não pode ser mais equivocado. O lucro é o resultado econômico da
geração de riqueza da empresa em um período. Já o caixa é a quantidade de
recursos financeiros extraídos da operação da organização.
Imagine
que uma loja tenha vendido R$ 50 mil em um determinado mês, tendo realizado R$
30 mil em pagamentos no mesmo período. À primeira vista, entendemos que houve
R$ 20 mil de lucro, mas não foram consideradas as contas pendentes, nem as
despesas que não influenciam no caixa, como por exemplo a depreciação.
Para a
obtenção do valor do lucro é imprescindível a observação da DRE (demonstração
de resultados do exercício). Já para a mensuração do caixa, deve-se observar a
DFC (demonstração de fluxo de caixa). Sem estes instrumentos, o empreendedor
pode pegar o caixa e simplesmente colocar no bolso, prejudicando a empresa nos
períodos futuros.
CONTAS PESSOAIS NÃO PODEM SE MISTURAR COM AS DA EMPRESA
Outro
problema comum visto nas pequenas e médias empresas é a utilização de recursos
para fins pessoais. Há casos até de grandes empresas, geralmente familiares, em
que recursos do caixa são usados para fins pessoais. Não há nada de ilegal
nisto, o problema é a desorganização gerada pela prática, além do déficit nas
contas operacionais da firma.
O
dinheiro da empresa deve ser o dinheiro da empresa, as necessidades dos sócios
devem ser registradas como retiradas ou pagamento de dividendos. Se na lista de
pagamentos há contas como alimentação, doméstica, mensalidade escolar e coisas
do tipo, a empresa poderá se tornar deficitária. Por isso é importante que não
se misturem as contas dos sócios com as da firma.
O CAPITAL DE GIRO NÃO DEVE SE MISTURAR COM CAPITAL PARA INVESTIMENTOS
Um
problema muito comum de ser encontrado em pequenas e médias empresas é a
descapitalização de curto prazo. Quando os negócios estão em crescimento,
muitos empresários se empolgam e realizam investimentos em expansão. Estes
investimentos são muito importantes para o crescimento da firma, mas não podem
ser feitos com a utilização do capital de giro.
Quando a
empresa assume custos de reformas, novas máquinas, investimento em tecnologia,
etc. elas precisam estar certas de que o capital de giro não será consumido.
Como o nome já diz, o capital de giro precisa girar. O prazo de retorno deste
capital ao caixa da empresa deve ocorrer no curto prazo, geralmente 30, 60 ou
90 dias.
Já o
capital de investimentos levará um tempo maior para retornar. Ele fará com que
os lucros aumentem, mas isso só ocorrerá a médio-longo prazo. Até lá, a empresa
precisa manter seu capital de giro preservado. Se a empresa se descapitalizar
para bancar os investimentos, ela poderá ficar insolvente e até chegar à
quebrar.
ANTES DE CONCEDER PRAZOS, DEVE-SE AVALIAR A DISPONIBILIDADE DE CAPITAL DE GIRO
Políticas
de expansão comercial podem ser promovidas através de descontos nos preços ou
concessão de crédito. Quando há pressões no mercado para se praticar melhores
preços e prazos, muitas empresas acabam cedendo antes de avaliar as
circunstâncias. Em geral, dar mais prazo parece ser menos prejudicial à firma
do que dar descontos, mas em muitos casos, observa-se o contrário.
Imagine
uma loja de roupas que trabalhe com uma margem bruta média de 45%. Ela tem a
opção de dar 10% de desconto à vista ou parcelar a compra em 2 vezes. Quando
ocorre o parcelamento, o desconto do cartão de crédito é de 3% e o dinheiro
leva 45 dias [(30d+60d)/2] para retornar ao caixa. Se o capital da empresa
custa 5%a.m., o gasto com o prazo será de 7,63% (capital) + 3% (taxa do
cartão), ou seja, 10,63%.
No caso
anterior, seria mais interessante conceder descontos para pagamento à vista do
que dar mais prazos aos clientes. Mas mesmo que o custo do prazo fosse menor,
seria necessário pensar 2 vezes antes de concedê-lo. Isto porque o esvaziamento
do caixa pode deixar a empresa sem capacidade de honrar com seus compromissos.
Até que
se faça uma boa reserva de capital, muitas vezes é melhor sacrificar um pouco a
lucratividade do que esvaziar o caixa e correr o risco de insolvência. Por
isso, a política de prazos deve ser muito bem pensada por empresários de todos
os ramos.
CONTROLANDO O CAPITAL DE GIRO
Se fosse
feita a eleição do melhor conselho para a organização financeira de pequenas e
médias empresas, ele seria: controlem o capital de giro. Não por acaso, esta é
a maior dificuldade dos negócios brasileiros. Há empresas extremamente
competitivas e com ótimos produtos, mas que acabam quebrando por falhas na
administração do capital de giro.
Mas o
que seria o controle do capital de giro? Bem, pode-se dizer que uma empresa que
consegue pagar todas as suas contas em dia utilizando apenas recursos
operacionais está administrando corretamente o capital de giro. Para medir a
quantidade de capital de giro necessária ao funcionamento da empresa, deve-se
usar as métricas financeiras adequadas.
A organização financeira da empresa depende basicamente de 3 métricas, são elas:
• PMP –
prazo médio de pagamento;
• PMR –
prazo médio de recebimento;
• PME –
prazo médio de estocagem.
O prazo
médio de pagamento (PMP) pode ser obtido a partir da política de prazos
praticada pelos fornecedores da empresa. Imagine uma firma que tenha a seguinte
estrutura de compras:
• 30%
das compras são realizadas à vista;
• 45%
das compras são pagas em 30 dias;
• 25%
das compras são pagas em 45 dias.
O PMP, o
prazo médio de pagamento, será o somatório ponderado de todos os prazos, ou
seja: (0,3×0) + (0,45×30) + (0,25×45) = 24,75, ou simplesmente 24 dias em média
(arredonda-se para baixo).
O PMR é
o prazo médio de recebimento, o qual é calculado usando a mesma metodologia do
PMP. A única diferença é que se utiliza como fonte de dados, os prazos
concedidos aos clientes da empresa. O PME por sua vez, é medido a partir dos
dados do inventário da firma, seu cálculo ocorre assim:
•
Obtém-se o estoque médio dividindo-se a variação dos estoques por 2. Assim:
(estoque ano B – estoque ano A) / 2.
• Após
obter o estoque médio, basta dividir o resultado pelo valor do custo médio das
mercadorias. Assim, se o estoque médio for de 300 e o custo médio for de 10. O
PME será de 300/10, ou seja, 30 dias.
• Uma
vez que se obteve o valor das três variáveis financeiras, deve-se fazer a
seguinte conta: PME + PMR – PMP. O resultado da conta revela o ciclo financeiro
da empresa. Digamos que em nosso exemplo, o PMR seja de 45 dias. O ciclo
financeiro então será de (30 + 45 – 24) = 51. Ou seja, a empresa precisa manter
um capital de giro equivalente a 51 dias de operação.
AUTOMAÇÃO DOS PROCESSOS
O
investimento em um sistema de gestão também é uma excelente alternativa para
alcançar ou aprimorar a gestão financeira. A utilização de um software ajuda a
eliminar a necessidade de processos manuais, reduz o índice de erros, aumenta a
agilidade e a produtividade, torna as informações mais confiáveis e seguras e
ainda contribui para a redução de custos.
Além
disso, em muitos casos, essas ferramentas permitem gerar relatórios que
proporcionam ao gestor um acompanhamento maior e mais preciso de suas
operações e o comparativo entre a
situação atual e o que se espera.
Isso
também ajuda a criar uma base sólida que auxilia no processo de tomada de
decisão, elaborando ações mais eficazes, de acordo com as metas que foram
traçadas.
INDICADORES PARA FICAR DE OLHO
Além dos
indicadores cíclicos que citamos (PME, PMR, PMP), o empresário também deve ficar
de olho em alguns outros muito importantes:
Liquidez
corrente (ativo circulante / passivo circulante): A liquidez corrente mede o
grau de cobertura do passivo operacional pelos ativos de curto prazo da
empresa.
Endividamento
geral (ativo / passivo): o endividamento geral mede o nível de risco da empresa
e sua capacidade de honrar suas dívidas como um todo.
Liquidez
imediata (caixa / passivo circulante): Mede a capacidade de a empresa reagir a
emergências, tendo dinheiro suficiente para saldar as contas de curto prazo.
Existe
uma infinidade de outros indicadores a serem avaliados. Mas se estes que
citamos forem bem administrados, provavelmente a empresa estará em boas
condições.
MONITORE A INADIMPLÊNCIA
Outro
fator muito importante para a organização financeira da empresa é o controle da
inadimplência. De nada adianta ter uma boa política de prazos, se os clientes
não pagarem na data combinada. Por isso, deve-se manter um nível máximo de
inadimplência aceitável. Caso a inadimplência alcance o limite tolerável,
deve-se interromper o fornecimento de crédito a clientes duvidosos.
O
indicador de inadimplência geral é obtido dividindo-se os recebíveis em atraso
pelo total de contas a receber (recebíveis em atraso / contas a receber). O resultado
é dado em termos percentuais.
A IMPORTÂNCIA DA CONCILIAÇÃO DAS DATAS DE PAGAMENTOS
Outra
dica importante para a boa organização financeira é o alinhamento das datas de
pagamento. Muitas vezes, nem é necessário um esforço de negociação para se alinhar
as datas de pagamento das contas aos prazos de recebimento dos clientes. Se as
datas de pagamento forem sincronizadas às de recebimento, a empresa reduzirá
sua necessidade de capital de giro.
REALIZE A CONCILIAÇÃO BANCÁRIA COM REGULARIDADE
As demonstrações
financeiras nos dizem quase tudo o que precisamos saber, mas sua fidelidade só
é comprovada pela conciliação bancária. A conciliação bancária é o ato de
validar os registros das demonstrações através de extratos dos bancos e do
caixa da empresa. Não são raros os casos de divergência entre as demonstrações
das empresas e os dados bancários.
Muitas
vezes, este fato pode ser provocado por tarifas desconhecidas, gastos não
registrados e outras contas não previstas. Empresas responsáveis, realizam a
conciliação bancária ao menos uma vez por mês. Isso é imprescindível para o bom
andamento do negócio.
CUIDADO COM O CRÉDITO CARO
Muitas
empresas administram seu capital de giro através de linhas de crédito bancário.
As categorias de curto prazo geralmente não fornecem taxas interessantes, além
de alienar os recebíveis da firma. Por isso, ter à disposição modalidade de
crédito simplificado é algo imprescindível.
Neste
tipo de modalidade, pode-se contratar crédito à taxas interessantes e sem
muitas complicações, elevando a competitividade da companhia.
É
importante que a organização financeira seja feita com base em indicadores, e
registrada de forma simples e objetiva. Com estas dicas, dificilmente sua
empresa entrará em insolvência e terá longos anos de lucros sólidos.